quarta-feira, novembro 02, 2005

do amor e outros demônios

"Cayetano, meio de brincadeira e meio a sério, se atreveu a soltar o cordão do espartilho de Síerva Maria. Ela protegeu o peito com as duas mãos; houve uma chispa de raiva em seus olhos e uma rajada de rubor lhe incendiou o rosto. Cayetano lhe agarrou as mãos com o polegar e o indicador, como se estivessem em fogo vivo, e as afastou do peito. Ela tentou resistir, e ele lhe opôs uma força terna mas resoluta.
- Repete comigo - disse: - "Enfim a vossas mãos hei chegado."
Ela obedeceu.
- "Onde sei que hei de morrer" - prosseguiu ele, enquanto abria o espartilho com seus dedos gelados.
Ela repetiu quase sem voz, trêmula de medo: -"Para que só a mim seja provado o quanto corta uma espada num rendido."
Então ele a beijou nos lábios pela primeira vez.
O corpo de Síerva Maria estremeceu com um gemido, e ela soltou uma tênue brisa marinha e se abandonou a propria sorte.
Ele passou por sua pele as gemas dos dedos, tocando-a muito de leve, e viveu pela primeira vez o prodigio de se sentir em outro corpo."

e o livro todo é assim.
parece poesia, daquelas que tocam lá no fundo.
e não tem como controlar, as lágrimas vão simplesmente caindo de seus olhos, não tem como controlar...

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

lerei :D

1:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"...uma chispa de raiva..."
Gostei disso.
:)

7:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Impressionante.

Todo mundo se emociona com esse livro de Garcia Marquez e eu sinceramente n gostei Lia. Sei lá.. n me tocou.. de repente li em uma má fase.

6:55 da manhã  

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