domingo, outubro 30, 2005

começando com o fim

seus pés arrastavam-se de maneira que seu caminhar tornava-se imperceptível até para os mais atentos.
um caminhado manso.
descalça, sentia a aridez da terra em que pisava.
o frescor do ar, ar puro.
ar como talvez em outros dias nunca tivera sentido.
ainda podia ouvir uma batida ao longe.
parecia um tambor que batia em seqüência exata.
e sentia aquele gosto de hortelã na boca...
ao sentir tal gosto, bateu a melancolia.
tal hortelã, era mania sua.
desde pequena gostara de chupar balas de hortelã.
e um frio.
o frio que sentia era o mais estranho,
mas alguma coisa tinha que ter, certo?
sempre acreditou ela naquele túnel e sua forte luz.
em sair, olhar para baixo (ou para cima) e ver-se rodeada de pessoas.
e cá estava ela a sentir gosto de hortelã!
só o fato de sentir!
seu caminhar, o frescor, os sons...
bem, talvez fossem apenas lembranças.
mas era para termos lembranças depois?
era para poder sentir?
era para poder ao menos existir?
se alguém alguma vez já disse um dia
que todos esses mistérios se desvendariam...
sinto decepciona-lo, meu caro, mas acho muito improvável.