domingo, janeiro 28, 2007

definitely maybe

uma certa invalidez percorria seu corpo.
ora, era possível perder toda sua força em um piscar de olhos?!
era algo inquietante; nada incomum.
uma unha quebrada ainda colada ao dedo por um resquício de pele em meio a tantas perfeitas
de mesmo tamanho e ainda pintadas.
algo mais ou menos assim.
uma invalidez ao olhar para si e se achar incapaz de provocar reações extraordinárias
em outras pessoas sem sequer abrir a boca.
queria essas reações; causá-las sem dó nem piedade!
era no que pensava durante esses dias! telepatia talvez ... não, não.
era o olhar.
às vezes acreditava que conseguiria! se ao menos tentasse com mais fervor ...
não; seus olhos mudavam de direção quase que mecanicamente no exato momento em que percebia um princípio de resposta!
ela o faz em seus sonhos, como qualquer outro sonhador.
teme por algo que não sabe explicar bem o que é
talvez a vergonha de uma dor ou um amor ou quem sabe a cor do que ela venha a achar
"não há nada a perder" repete insistentemente ...
e inutilmente!
um dia ela vai e se escuta! que deus abençoe!
então, nesse dia, ela olhará indiscriminadamente e ninguém a deterá.
utilizando o poder do medo, a droga mais potente das produzidas pelo corpo humano, ela se torna quase invencível! eu disse quase! não por nada não ... apenas precaução.
um dia ela contraria os pensamentos e quem sabe até se abstém de pensar durante um tempo.
louca?! não, pensar a deixava louca!
era agora imprevisível e por fim um pouco mais impulsiva.
sempre tive uma queda por seus mais loucos impulsos.
então ela olha novamente e vê como é estar sobre as nuvens, diretamente nos olhos.
seus lábios, impulsivamente, encontram outros à sua espera e os olhos se cerram.
algo de segundos, diria eu.
uma eternidade.

terça-feira, janeiro 23, 2007

El invierno

El viento resopla,
bailan las palmeras,
vuelan los papeles
de las papeleras.

Agitan sus plumas
las aves viajeras,
huyen de la plaza
hasta primaveras.



Lia Aguiar (10.01.96)

sexta-feira, janeiro 05, 2007

agridoce

2:33 a.m.

hora exata que o relógio de cabeceira idicava.
não conseguia dormir; sequer pregava o olho.
olhou para o seu lado direito e só o que conseguia ver era o travesseiro
com as marcas cuidadosamente guardadas há uma semana.
outra lágrima escorria do seu rosto.
uma semana e ainda não conseguia acreditar.
sempre fora tão senhora de si! quem alguma vez iria imaginar que estava agora sofrendo por outra pessoa?

2:36 a.m.

essa droga de tempo não passa mesmo.
não passa desde meus cinco anos quando eu invejava e desejava mais anos!
aos dezoito tudo acelerou, tudo fora de controle.
semana passada, parece até que voltei aos meus cinco anos de idade!
as rosas brancas no corredor já murcharam e o leite fora da geladeira já azedou
e eu continuo aqui! sem dormir! não acredito; parece um pesadelo terrível.
não! não, não! não!
uma dor no peito! nunca mais vou amar alguém! pra quê, afinal? para sofrer tudo isso?
ou fazer alguém sofrer tudo isso?
não! não, obrigada!

2:41 a.m.

Ela estava cada vez mais inquieta.
levantava; lavava o rosto; olhava pela janela e deitava novamente,
com cuidado para não desfazer as marcas do corpo ao seu lado.
há uma semana que as noites eram assim.
ela havia inundado seu lado da cama com lágrimas.
não agüentava tanta dor!
se levantou novamente; sentiu uma tontura ao se levantar dessa vez.
olhou-se no espelho e enxugou as lágrimas.
que destino mais cruel, o dela!
ainda podia ver a expressão de pavor no seu rosto ao ser atingido por
aquelas luzes de velocidade fulminante.
ela nunca esqueceria a sua feição naquele momento.
talvez tivesse sido melhor se ela não tivesse visto nada.
talvez, assim, mantivesse somente aquele lindo sorriso em sua mente ao se lembrar dele.

3:00 a.m.