segunda-feira, janeiro 14, 2008

"esses humanos que circulam pela cidade aí afora ... "

Eu agora estava entregue ao pânico. A porta não parava de bater e eu temia que fosse quem eu pensava que era, mas não tinha coragem suficiente de abrir a porta para descobrir. Enquanto isso a porta era brutalmente esmurrada. O ser humano é mesmo um monte de merda, como já devo ter lido em algum lugar e com minha estupidez humana achei ser exagero naquele momento. Somos criaturas mesquinhas. Lá estava eu, maldizendo a humanidade, prestes a ter uma crise filosófica (eu odeio crises filosóficas) quando a porta é, finalmente, arrombada. Tremi nas bases e me preparei psicologicamente para me deparar com aquela criatura humana (desumana seria elogio). E espero. E espero. Meu desepero só aumentava. Ora pombas! Cadê o maldito? Nenhum barulho. Presumi que tivesse ido embora. Me aterrorizado e me deixado com meus próprios fantasmas. Santa crueldade! Já estava todo suado e não sabia mais dizer se tudo não havia passado de uma alucinação. Talvez algum efeito colateral do remedinho para as minhas dores de cabeça. Deixar um homem só com seus próprios pensamentos parecia muita maldade. Até para um ser humano! Começara então a reviver alguns momentos. Ah, malditas lembranças! Elas eram belas, elas me faziam sorrir e, exatamente por isso, elas provocavam uma dor maldita! Me levantei e fui buscar algo para beber. "Esfria a cabeça", como diria meu amigo Marcondes. Gin & Tônica. Ice. A porta estava fechada. Me dirigi à varanda. Imaginei que horas deveriam ser. A cidade que nunca dorme, dormia profundamente. Isso já me aprecia um belo de um sonho. Eu nunca sonhava coisas no mundo real, mas depois do ocorrido isso acontecia com certa freqüência e me deixava puto da vida, se quer saber. Porra, uma criatura não pode sequer sonhar em paz? Era tudo o que eu tinha e isso estava sendo tirado de mim. Por uns segundos aquela janela, aquele vento, aquela altura foram chamativos para mim. Passados esses segundos, um sorriso brotou no meu rosto, uma dor no meu peito. Porra! Maldito remedinho pressa dor de cabeça! O médico bem que avisou. Fui atrás de um papel e uma caneta, me deparei com uma criatura humana esperando na poltrona. Meu corpo todo foi tomado por um calafrio. E agora?