por um fio

ela se sentia magoada.
magoada consigo mesma, achou ter culpa.
porque, ironicamente, aquilo já havia passado por sua cabeça.
e agora sua filha!
queria saber se tinha falhado ou se era uma verdade
que todos ao seu redor sentiam-se tristes.
mesmo já tendo passado por isso, parecia que havia esquecido o que sentia.
não entendia.
chorava compulsivamente agarrada a mão da filha como se tivesse medo de deixá-la sozinha,
mesmo que fossem por alguns minutos.
sua filha a olhava aterrorizada.
sabia que era por sua causa que a mãe chorava.
sentia que a havia decepcionado.
estava profundamente triste, mas nem uma lágrima caía de seus olhos.
a mãe parou um pouco para pensar e achou-se a mais egoísta possível!
sua filha sofrendo e ela pensando em si própria.
enxugou as lágrimas. tragou saliva e suspirou algumas palavras reconfortantes,
mas seu olhar não enganava e continuavam a interrogar a filha.
- eu te amo, mãe, - falou com uma voz seca de quem não falava há horas - quero que saiba disso.
então uma lágrima, dentre as várias que viriam, escorreu do seu rosto.
nenhuma palavra mais foi dita naquela noite.
abraçadas e unidas como nunca tinham antes se sentido
adormeceram no silêncio que o cenário as havia proporcionado.