segunda-feira, agosto 14, 2006

a.m.

algumas pessoas teimam em querer entender certas coisas;
eu, particularmente, prefiro vivê-las.

olho para o lado e o relógio indica 4:35 am
(muito cedo, muito cedo)
fecho os olhos, com força; - quero dormir, por favor!
algo se mexe do meu lado,
não, não o acordei! pois muito bem,
olhos cerrados, maresia em mente .. agora quero dormir.

- hum? tá acordada ainda?
droga! o acordei.
- acordei agora, acho que tive um pesadelo ... não consigo mais dormir, o sono fugiu.
com um enorme esforço ele olha para aquele relógio ...
- nossa! vem cá, menina .. vamos dormir.
e dorme; eu não, fico acordada só olhando.
fico olhando suas feições, belas feições, delicadas feições.
nunca o tinha olhado assim; estava calmo, cabelos bagunçados, respiração tranquila.
ouvia o coração batendo; sim, ainda dormia.

o sol vai nascendo e o quarto, iluminando;
adormeci finalmente.
menos de cinco minutos depois o escuto me chamando.
voz doce, chamando meu nome baixinho, bem baixinho.
- ah, só mais uns minutinhos ...
escuto uma risadinha, um beijo na bochecha e adormeço.

algumas pessoas ficam se perguntando;
eu, particularmente, prefiro vivê-las simplesmente.

quarta-feira, agosto 02, 2006

identificação

"Ritinha chamou: "mãe, me ajuda a tocar esse bicho do quarto."
Era uma perereca que Glória enxotou sem medo, sem a mais leve sombra do horror que padecera quando morava em Bom Sucesso e não sabia dizer como começou. De manhã à noite, as pererecas.
Nas folhagens, no jardim, atrás do filtro, na pia da cozinha, no banheiro! Pequenininhas, frias, o olhão grande, pareciam gente, pareciam rir dela. Uma noite, acabando de se deitar, uma caiu nela.
Glória ficou em pé na cama e começou a gritar, sentindo os nervos retorcerem-se, à beira de uma convulsão. Gabriel não entendia, esforçava-se para não perder a paciência. Foi um tempo terrível. A empregada percebia, sádica: "olha, dona Glória, elas vêm é no cano dágua." Na casa da senhora tem muita?- Glória perguntava a Fia Lavadeira. Empoleirava-se no sofá, cobria as pernas para amamentar Júlio recém-nascido, atenta as gozadoras invisíveis, escondidas pelos cantos da casa.
Falava nelas com todo mundona cidade, queria mudar de casa, fazer um programa de rádio sobre o assunto, um estudo para gastar o medo, extinguir o bixo odioso."



"padre, eu queria muito ser leviana, quero dizer, não me tornar agora uma leviana, por decisão, mas ter nascido leviana, bronca, suficientemente estúpido para fazer as coisas sem interrogação."


cacos para um vitral - Adélia Prado.



~ by the way: deixem de dramas. o post passado é uma mera música! música que eu ouvi bastante e ouvi falarem muito dela. nada com minha super emocionante vida amorosa, hum? ;)