Seu olhar era cansado, denunciava sua idade, suas experiências.
Não era necessário olhar para seus olhos para perceber isso.
Sua testa era enrugada e quando fazia alguma expressão mais forte nos perdíamos diante de tanta pele.
As sobrancelhas já meio caídas davam um ar de tristeza à senhora que tentava inutilmente esconder isso com seus óculos de grossa e redonda armação negra.
Olhava desconfiada de um lado para o outro.
Conhecia demais aquela vida e achava que não podia confiar as pessoas.
Na verdade, sua confiaça poucos a alcançaram. Depois de tantas decepções, ainda se confiava ao seu marido.
Ela segurava sua mão ferozmente como se ele fosse protegê-la de todo mal.
Mesmo assim não sossegava e o olhar desconfiado continuava.
Não sei o que aquela senhora tinha que tanto me chamava a atenção! Afinal, eramos todos um pouco parecidos com ela.
De qualquer forma, coincidentemente, ou talvez tenha sido um impulso meu sobre minha curiosidade,
descemos na mesma parada: o casal e eu.
Ele agradeceu ao motorista que não fez caso e ela, ainda com aquele olhar intrigante, desceu sem falar nada.
Fomos descendo na mesma calçada, quando os vejo parar em frente a uma casinha ... automaticamente diminuo o meu passo.
Fico observando discretamente e de repente todas minhas idéias confundem-se.
Ela abre um enorme sorriso, este tal que ilumina todo o seu rosto. Havia, repentinamente, voltado a sua mocidade.
Estava bela, muito bela e se isso não fosse o bastante, possuia ela uma enorme sabedoria dos anos passados.
Continuei caminhando. Fascinada.